“Senhores
passageiros, bom dia! Aqui quem fala é o comandante. Bem
vindos a bordo. Nesse momento, estamos cruzando aproximadamente
sete mil metros durante a subida para a nossa altitude final de
cruzeiro. As condições do tempo no destino são
boas e o nosso vôo terá duração total
de duas horas e vinte minutos. Tenhamos todos um bom vôo.
Muito obrigado!”
Tranquilamente, você reclina sua poltrona, abre o jornal
e começa a ler as notícias do dia, entre um e outro
gole do refrigerante servido pelos comissários de vôo.
Enquanto isso, os componentes do sistema de pressurização
do avião trabalham para manter as condições
internas da aeronave dentro de limites confortáveis, pré-estabelecidos
e próximos do que normalmente temos no solo. Basicamente,
um compressor garante um fluxo de ar sob pressão adequada
para dentro do ambiente, enquanto sensores de pressão e
válvulas de alívio controlam os limites. Lá
fora, a pressão e a temperatura diminuem consideravelmente
conforme ganhamos altitude.
Um ruído súbito. Grave, forte e seco, como uma batida
contra a superfície do avião. Seguem-se alguns milisegundos
de silêncio. Parecem horas na sua mente confusa e surpresa.
Algo ruim aconteceu! O coração acelera. Os poucos
milisegundos passam. Um assovio alto misturado a outros sons estranhos
modulados por gritos de várias direções.
A umidade do ar em volta condensa de forma explosiva. Tudo fica
branco como se, de repente, estivéssemos dentro de uma
nuvem. Fluxo forte de ar frio sobre seus cabelos. Movimentos e
vibrações na estrutura do avião. O que fazer?
O que é isso? O que está acontecendo? Os sistemas
de emergência respondem rápido. Máscaras de
oxigênio caem do teto. “É real!”, você
tenta se convencer. Lembra-se vagamente da explicação
dos comissários, durante a qual você olhava a paisagem
do estacionamento pela janela. Aperta mais o cinto. Justo em tempo.
Um frio na barriga e a sensação de “descolar”
do assento dizem que o avião começou a descer rapidamente.
Coloca a máscara. “Não é tão
difícil assim”, pensa aliviado. O comandante fala
novamente. A voz não parece tão calma quanto da
última vez, mas tem o tom profissional de saber exatamente
o que fazer naquele momento.
“Senhores, tivemos um problema com uma das portas. Isso
ocasionou a despressurização súbita da aeronave.
Estamos descendo para uma altitude segura. Por favor, mantenham-se
nas poltronas, com os cintos apertados. Os comissários
tomarão as providências de segurança necessárias.
Pousaremos em breve. Fiquem calmos.”
O que ocorre com o avião e seu corpo nesse momento? O que
causou os fenômenos observados na atmosfera interna e os
ruídos?
Em termos de fatores externos, a perda da porta fez com que a
pressão interna da aeronave fosse repentinamente reduzida,
ficando igual à baixa pressão externa. Dentro do
seu corpo, além da equalização de pressão
nos canais do sistema auditivo e cavidades (nunca voe gripado!),
o organismo tenta desesperadamente ajustar-se à nova situação
e sobreviver. Para a altitude em questão, sete mil metros,
o maior problema é a baixa pressão parcial do oxigênio
disponível. O corpo tenta compensar alterando alguns dos
seus parâmetros, como a aceleração da frequência
cardíaca. Contudo, o tempo de sobrevivência nessas
circunstâncias depende da altitude. Isto é, quanto
maior a altitude, menor o tempo de vida. Por isso, é importante
vestir de pronto as máscaras de oxigênio. A situação
de baixa concentração de oxigênio no corpo
é chamada “hipóxia”. Dependendo da altitude
e do tempo de reação, ela pode ser fatal, levando
à perda de consciência e morte em alguns poucos minutos,
se tanto. O problema principal, porém, é que um
dos primeiros “sistemas” atingidos é o nosso
cérebro, e com ele se vai o nosso raciocínio. Isto
é, sob condições de hipóxia, perdemos
rapidamente a capacidade de avaliar a situação e
agir. Os sintomas da falta de oxigênio são individuais,
mas de forma geral ocorrem rapidamente, exigindo reconhecimento
imediado. Por essa razão, é importante que cada
tripulante esteja completamente ciente dos seus próprios
sinais e treine as ações imediatas para reestabelecer
o fluxo de oxigênio “sem pensar”. Para isso
servem as “Câmaras Hipobáricas”.**
Aqui no Centro de Treinamento de Cosmonautas, temos câmaras
hipobáricas que são utilizadas com frequência
por nós, tripulantes, para reconhecimento dos sintomas
de hipóxia, verificação da resposta natural
do nosso organismo e treinamento de procedimentos de emergência
e técnicas de aumento de resistência do corpo à
esta condição. Todas as atividades são coordenadas
e acompanhadas por médicos com especialização
em medicina aeroespacial. Esse exercício é necessário
no nosso caso, como cosmonautas a bordo da Soyuz, não só
para responder às possíveis emergências, mas
também porque, durante uma descida normal, a pressão
da cápsula é equalizada ao ambiente externo automaticamente
a 5.5 km de altitude através da abertura, por carga pirotécnica,
da válvula de despressurização do módulo
de descida. Portanto, temos que estar preparados técnica
e fisiologicamente para esse evento “normal” no plano
de descida do vôo espacial.
Por outro lado, durante as nossas viagens aqui na Terra, embora
a despressurização total e repentina da cabine de
um vôo comercial seja um evento “anormal” e
bastante improvável, aí vai uma dica: esteja sempre
preparado, deixe para apreciar a paisagem do aeroporto depois
das instruções dos comissários!
** O nome “hipobárica” refere-se
à “Pressão Reduzida”. Isto é,
simula as condições naturais de grande altitude.
Em contraste, existem também as câmaras “hiperbáricas”,
que simulam grandes pressões encontradas, por exemplo,
durante mergulhos